quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Santo André e São Nicolau

Pois é, muita gente fica esperando o ano inteiro o natal somente pelas “luizinhas”. Enfeites de todos os tipos são vistos: papais noéis, bonecos de neve, renas e viadinhos... coisas típicas da cultura brasileira.

Bem, mas é dessa manifestação da cultura brasileira que venho falar. Estou aqui pra falar dos enfeites de Natal e dos gastos com tudo isso. Será que é inteligente utilizar os nossos impostos pra enfeitas as ruas do centro e dos “principais” bairros de Santo André? Não há nenhum outro emprego pra esse dinheiro? Escolas? Infra-estrutura viária? Algo que traga dinheiro para o município e não tire dinheiro dele.

Sei que alguns vão dizer que é pouco dinheiro e que pras outras coisas que eu falei se gastaria muito mais, e eu concordo com isso. Porém não é só essa torneira que está pingando. Ao longo do ano muito dinheiro é jogado fora (do meu ponto de vista enfeites de natal nas ruas é jogar dinheiro fora, mas como eu disse, isso é do meu ponto de vista). Se todas as torneiras fossem fechadas, algo de (realmente) proveitoso poderia ser feito para os munícipes.

Outro argumento é que a cidade fica bonita, agradável... Bem, eu prefiro uma cidade com pessoas educadas, instruídas e bem empregadas e não uma cidade com pessoas embasbacadas com “luizinhas”.

Posso estar falando uma gde bobagem aqui e espero q esteja! Espero que seja uma iniciativa da iniciativa privada esses enfeites todos e que eu esteja realmente errado...

... mas e aquela coisa faraônica do prédio da prefeitura? Seria da iniciativa privada? Putz! Se for... vou ter muito assunto pra escrever aqui! Se não for parte do que eu falei é válido!

Regina Casé e a "minha periferia"


No domingo, 22 de setembro de 2007, foi ao ar no fantástico uma reportagem sobre a periferia de Luanda, capital de Angola. A “repórter”, Regina Casé, se utilizou da oportunidade para fazer algumas “amizades” e para mostrar o quanto a periferia de Luanda era legal, como as pessoas também eram felizes e tal... Infelizmente, do meu ponto de vista, ela continuou a fazer aquilo que ela já vinha fazendo com o quadro (ou programa, sei lá...) Central da Periferia: glamourizar a pobreza!

Desde já deixou claro que não tenho nada contra pessoas ditas ou rotuladas como pobres, apenas contra a manutenção e perpetuação do pensamento de pobre e suas variantes.

Durante o quadro ela visitou uma feira no estilo “feira do rolo” aqui do Brasil chamada Roque Santeiro (nome de uma novela exibida pela Globo em 1984/1985). Durante o quadro foi mencionado que muitos têm medo de entrar nesse local (pensei que isso ocorria somente aqui). Locais como aquele são comuns aqui no Brasil (feiras do rolo, Pajé, Saara e afins) entre aqueles que não moram e principalmente entre os que moram na periferia: locais de venda e troca de objetos que, na sua maioria, possuem origem questionável. Não sei se esse é caso do “Roque Santeiro”. A imagem que a “repórter” passou foi a de que aquilo era a coisa mais comum do mundo e que era muito “maneiro” (yeah!).

Além da feira com nome de novela mostrou-se a vida nos bairro suburbanos de Luanda: lojinhas de roupa, cabeleireiros e as casas. Claro que como não poderia deixar de ser, enfatizando as semelhanças com as periferias tupiniquins inclusive no que diz respeito às novelas. As lojinhas de roupas estão com foco no look Bebel (personagem de Camila Pitanga na novela Paraíso Tropical): roupas e brincos conforme os modelos utilizados pela prostituta da novela. Como algumas jovens angolanas disseram: com muita catigoria! Outra influencia causada pelas novelas foi a mudança da cor dos bigodes dos angolanos seguindo a moda Foguinho (personagem de Lázaro Ramos).

Já o mais impressionante foi a propaganda da Globo feita pelos angolanos: uma mulher chegou a dizer que sabe tudo o que acontece em São Paulo, que foi seqüestrado, que morreu, tudo isso graças ao sinal captado pelas antenas parabólicas. O supra-sumo da alienação e da glamourização da pobreza: os pobres legais de Luanda também assistem Globo, também assistem novela, como mencionei anteriormente...

O que ocorreu no último domingo não é novidade e pode até passar despercebido para algumas pessoas, mas o que ocorreu foi uma forma de passar para o povo a imagem de beleza da pobreza, de conformidade, de glamourização. O que a Regina Casé e os seus diretores, redatores e afins deveriam estar fazendo é mostrando pessoas que saíram da pobreza através de estudo e de trabalho e não pessoas que continuam na pobreza por conseqüência da ignorância e da acomodação.